Marielle, Presente.

Dia 14 de março, Marielle Franco, 5ª vereadora mais votada do Rio de Janeiro com 46 mil votos, foi executada enquanto voltava de um encontro com mulheres negras – seu motorista, Anderson Gomes, também faleceu por estar na linha de tiro. O crime escancara o racismo, a violência e a desestruturação política pela qual o Rio de Janeiro (e, não se engane, o país) vem passando. Lutando por um feminismo real, como um projeto sobre a extensão do horário das creches, tinha sido indicada para a comissão que fiscalizaria a intervenção militar no estado, e inclusive já tinha começado suas denúncias. Em duas semanas seu destino foi cravado. Por todo o país, a revolta uniu milhares de pessoas, e em Curitiba também houve uma vigília.

O ato pareceu um pouco diferente do que foi no Rio e em SP. Não houve uma passeata, nem teve tantos gritos unidos de revolta; apenas alguns “marielle, presente” no fim de algumas falas e vários relatos emocionados nas escadarias do prédio histórico da UFPR.

Nós aqui somos uma cidade massivamente branca, extremamente racista e radicalmente desigual. Quase não vemos gente preta fora da periferia, e quando vemos, ou tem que estar engomadinho dentro das regras dos brancos ou então a população no geral já considera ladrão, drogado, puta.

Em um momento do ato várias mulheres negras tiveram que tomar o microfone revoltadas para relembrar de quem era o lugar de fala naquele momento: delas. Foi uma mulher negra que foi executada, a voz ouvida deveria ser das suas iguais. Até ali houve quem tentou tirar o caráter racista do crime e foi vaiado. Houve quem tentou jogar um discurso de feminismo branco e teve que ser calado. Houve vários brancos que só falaram de si, nitidamente sem enxergar a existência dos negros nessa cidade e suas lutas diárias.

Nós brancos não tivemos a mínima empatia de não falar besteiras e dar dois passos para trás logo num dia desses, durante um momento tão difícil e de luto. Não adianta vir com discurso bonito mas ter ações que não condizem; só saindo da frente e abrindo caminho para população negra que novas Marielles poderão existir.

Talitha B.
Talitha B.

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